Artigo

O Lugar da Metafísica no primeiro e no segundo Wittgenstein

        O pensamento de Wittgenstein é conhecido por ser o atestado de óbito da metafísica. A postura da impossibilidade de se falar de metafísica manteve-se nas duas fases de seu trabalho. Pretendo aqui explanar brevemente sobre o porquê da suposta condenação à metafísica no primeiro Wittgenstein e, ao mesmo tempo, discordar dela, pelo menos em parte.
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Considerações Sobre Ser o Não-ser Contemporâneo

                                                                            Tous ces défauts humains nous donnent dans la vie
                                                                            des moyens d’exercer notre philosophie.
                                                                                                                         Molière

        Descartes dizia que “não filosofar é viver cego”. Essa pequena-grande frase explica brilhantemente o viver do homem contemporâneo que se pretende globalizado, onipresente e onisciente, mas que, na verdade está isolado e perdido de si. É um homem cego, que já não se encanta nem se assombra com nada. O mundo precisa reaprender a estranhar e a estranhar-se. Vivemos uma época em que a contemplação não tem lugar, o admirar-se já não ocorre. É um tempo de esgotamento, de insatisfação e descrença no futuro.
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CONSIDERAÇÕES SOBRE O JULGAMENTO DE SÓCRATES

        Faz-se aqui a resenha do capítulo sétimo do livro Os deuses que não morrem, intitulado Revisando o Julgamento de Sócrates, de Herbert Salvador de Lima, publicado em 1996 pela editora Loyola. Neste capítulo, o autor reflete sobre o papel que Sócrates desempenhou não só na filosofia, mas na sociedade de seu tempo, a ponto de ter sido considerado perigoso para a ordem pública e, por isso, preso, julgado e condenado à morte.
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AS BASES FILOSÓFICAS DO PENSAMENTO DE PAULO FREIRE

        O pensamento de Paulo Freire sofreu influência de várias correntes filosóficas, e se pauta pela busca da independência crítica do homem, pela sua libertação. Paulo Freire é herdeiro do Idealismo Hegeliano, do Marxismo e do Personalismo de Mounier.
O personalismo de Mounier associa a noção de consciência com a de comunidade, sustentada por suas reflexões sobre comunicação interpessoal e comunhão. Essa liberdade não é a da individualidade liberal, mas a da pessoa enquanto consciência autônoma em comunicação com as outras. Da comunicação nasce a comunhão que, fundada no amor, é um dos sustentáculos da idéia de revolução comunitária proposta por Mounier. A revolução comunitária é um processo de conscientização que deve se disseminar por toda a sociedade, prenunciando um socialismo utópico, que substitua as opressões de direita e os totalitarismos de esquerda. E é pela educação que as consciências se tornam críticas da realidade. Ela deve ser pensada para além da tutela do Estado, devendo estar sob a tutela do povo. Isso dá um tom libertário às reflexões pedagógicas de Mounier, o que também se encontra em Paulo Freire.
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A VIRTUALIDADE PÓS-MODERNA

        A partir da década de 1960, e no Brasil mais marcadamente no início da década de 90 do século XX, uma série de inovações científicas e tecnológicas convergiram para a criação de novos paradigmas. As redes interativas de computadores cresceram e criaram novos canais de informação e comunicação que promovem mudanças nas relações sociais, econômicas e culturais. A emergência da Internet, com a formação de comunidades virtuais de interação on-line, foi vista por muitos como o surgimento de novos padrões de relações sociais substituindo as antigas. Os críticos da Internet argumentam que a rede promove o isolamento social e um colapso da comunicação e da vida familiar. A sociabilidade real seria substituída por uma aleatória e virtual, baseada em identidades falsas e representação de papeis. Assim, a Internet foi acusada de induzir as pessoas apenas a viver suas fantasias on-line. Hoje, décadas depois, essa visão está ultrapassada. Com a difusão em massa da Internet, ela foi apropriada pela prática social em toda a sua diversidade, e essa apropriação tem efeitos sobre essa mesma prática. Pesquisas recentes mostram que a representação de papeis e a construção da identidade via Internet são uma pequena parcela da sociabilidade baseada na rede, e esse tipo de prática concentra-se nos adolescentes (Castells, 2001). A Internet não é um terreno onde prevalece a fantasia, mas uma extensão da vida como ela é, em todas as suas dimensões. E mesmo nos ambientes em que a representação de papeis é comum, esses papeis são moldados segundo as vidas reais dos “personagens”: “[...] a maioria dos usuários sociais da comunicação mediada por computador cria personalidades on-line compatíveis com suas identidades off-line” (Baym, 1998 apud Castells, 2001, p. 100).
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Heráclito, Parmênides e Jesus. Ser e/ou Não-ser?

Costuma-se estabelecer, já no começo da história da filosofia, uma grande oposição que dominaria todo seu desenvolvimento futuro: a oposição entre “ser” [de Parmênides] e “vir-a-ser” [de Heráclito]. Apesar dessa grande divergência, podem-se considerar estes dois filósofos como inauguradores da metafísica.

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O amor como lugar

Desmentindo a suposta crise da psicanálise, as intuições centrais de Freud adquirem somente agora seu pleno valor. Como a ética lacaniana pode nos orientar diante das inúmeras escolhas morais da atualidade?

Nestes últimos anos, uma nova onda triunfante proclama a morte da psicanálise: graças aos avanços recentes das neurociências, aí está ela, relegada ao lugar onde desde sempre pertenceu, no quintal pré-científico e obscurantista da busca dos sentidos ocultos, em companhia dos confessores religiosos e dos decifradores dos sonhos. Como disse Todd Dufresne, ninguém na história do pensamento humano esteve tão enganado sobre seus postulados fundamentais – com exceção de Marx, acrescentariam alguns, sem dúvida. E, de fato, como se poderia prever, em 2005, o lamentavelmente célebre Livro negro do comunismo, somando todos os crimes do comunismo, foi seguido do Livro negro da psicanálise, enumerando todos os erros teóricos e todas as manipulações clínicas da psicanálise. Nesse sentido negativo, pelo menos, a solidariedade profunda entre o marxismo e a psicanálise agora é mostrada aos olhos de todos.
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Uma relação ambivalente

Da identidade absoluta à oposição total, a relação tensa entre filosofia e psicanálise constitui um dos traços fundamentais da obra de Lacan

Lacan foi um teórico da psicanálise que se notabilizou pela importância que concedeu à filosofia. Suas referências filosóficas são superabundantes, as mais diversas tradições da filosofia encontram-se representadas em seus textos e em seus seminários, num desfile de nomes ilustres convocados à discussão dos mais variados tópicos da teoria psicanalítica. Esse index nominorum impressiona por sua extensão e variedade: podemos aí encontrar, em posição de destaque, Sócrates, Platão, Aristóteles, Plotino, Descartes, Pascal, Kant, Hegel, Kierkegaard e Heidegger, para ficarmos apenas com os mais famosos.
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O crime de Lady Gaga

Lady Gaga é o mais recente ídolo pop da cena internacional. Entenda-se por ídolo pop um indivíduo que encanta as massas com a habilidade artística de que é capaz sendo seu autor ou o mero representante de uma estética inventada por publicitários e estrategistas de produtos culturais. Nesse sentido, todo ídolo pop age como o flautista de Hamelin conduzindo por certo efeito de hipnose uma quantidade sempre impressionante de pessoas. Ele é também um guia estético e moral das massas. A propósito, entenda-se por massa um grupo de indivíduos que, ao se encontrar com outros, perde justamente a individualidade, tornando-se sujeito de sua própria dessubjetivação. Em outras palavras, ele é hipnotizado como se estranhamente desejasse sê-lo. A Indústria Cultural depende desse mecanismo, por meio do qual oferece ao indivíduo a oportunidade de se perder com a sensação de que está ganhando. O ídolo pop é a humana mercadoria que permite o gozo pelo logro que o espectador logrado aplica a si mesmo.
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