Arquivo de fevereiro 2009

Um grande jogo

A História da Enchente e a Idéia de Destino.

         Fazer uma análise filosófica e histórica sobre as cheias dos rios, o que na verdade envolve hoje a realidade de sofrimento de muitas pessoas vitimadas por esse tipo de fenômeno, pode parecer à primeira vista sinal do maior egoísmo e individualismo, um ponto de vista míope de quem só é capaz de ver a beleza do volume excessivo de águas encobrindo vales onde com certeza não se localiza a residência de sua família em particular. Houve todavia um tempo em que as enchentes eram até esperadas com ansiedade, como aquelas do rio Nilo no Egito ou dos rios Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, cujo nome significa justamente “entre – rios” (meso + pótamos). É que as cheias levavam novos nutrientes para a terra agriculturável.
         Hoje a idéia comum sobre as enchentes é que a natureza estaria respondendo à irresponsabilidade humana em sua falta de cuidado e desrespeito ao meio ambiente. A questão se reveste então de caráter ético e carrega uma crítica histórica que passa a colocar em dúvida o valor real de todo o caminho traçado pela ideologia racional de progresso como desenvolvimento fatal do homem, um ideal que teria começado no século XVIII (filosofia das luzes) ou mesmo no século XIV (renascimento ou transição da Idade-média para a Idade-moderna).
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Quarta-feira de cinzas

      Você já parou para pensar por que escola de samba se chama escola de samba? Se é escola, é por que ensina algo; mas ensina o quê? Samba? Como diria Nelson Rodrigues, isto é o óbvio ululante. Mas é só isso que a escola de samba ensina? Ou ensina também uma ética, uma estética e uma identidade comunitária? Um modo de compreender a polis, de se posicionar e agir em relação a ela, modificando-a? Penso que isso e mais alguma coisa. Ensina a diferença entre ensinar samba e ensinar a sambar; o que nos conduz à clássica pergunta, agora dirigida à nossa própria escola: ensinar filosofia ou ensinar a filosofar.
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Grupo de Estudos em Filosofia Oriental – 2009

Reinício dia 03 de março de 2009
Datas: Sempre às Terças-feiras:
Março: 3-10-17-24; Abril: 7-14-28; Maio: 5-12-26; Junho: 2-16- 23-30.
Horário: das 15:00 às 17:00 horas.
Local: Biblioteca Alcântara Silveira.
Rua: Comendador José Garcia, 396, sala 202. Centro – Pouso Alegre- MG
Fone: 99846314.
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Pablo Neruda e o filósofo


      Em que pensa Pablo Neruda enquanto deita sobre o filósofo Maurílio Camello seu melhor olhar metafísico? Talvez pense sobre este curioso ser, instado e tolhido pela própria racionalidade a buscar uma verdade que lhe escapa, mas está lá. Pablito (para os íntimos) ou Bito (para os amigos de longa data, como é o caso do filósofo) talvez se recorde das palavras de Aristóteles sobre a sabedoria ao fixar seus astutos olhos felinos em seu companheiro de jornada, ali mesmo em volta de seu computador, onde o vê preparar suas aulas, entre eurekas e profundas meditações, por vezes acompanhadas de expressões pouco doutas, mas de uma precisão absoluta. Ali, fora do tempo e do espaço a dialogar carinhosa e animadamente, vividamente com aqueles que vem segredar a seus ouvidos alguns dos mistérios que buscamos entrever, a extrair da vida e devolver a ela a virtude do verdadeiro “sabedor” que distingue os filósofos dos apenas professores de filosofia; a preparar encontros como aquele do qual tivemos o privilégio de participar na Faculdade Católica de Pouso Alegre, em sua aula magna proferida para o curso de Filosofia no dia 06 de fevereiro de 2009. Encontro que foi bem além da oração de sapiência; foi magistral, na acepção mais estrita do termo, logrando seu intento de ensinar apenas aquilo que precisamos saber.
      Caro mestre Maurílio, oxalá possamos trilhar caminhos tão férteis quanto os que sustentaram seus passos e cheguemos a saber que não sabemos ao menos uma parte do que o senhor sabe que não sabe. Agradecemos pela inspiração.


Mauricio Almeida
Terceiro Período de Filosofia