Arquivo de 9 de abril de 2010

O método desviante

Algumas teses impertinentes sobre o que não fazer num curso de filosofia

            Como uma boa e velha professora de filosofia, prefiro cercear o assunto, amplo demais, por caminhos negativos, desvios e atalhos que não parecem levar a lugar algum. Digo “professora de filosofia”, porque meu território de atuação é, primeiramente, a sala de aula e a dinâmica com os estudantes, com todas as vantagens e todas as restrições que o ensino universitário no Brasil traz consigo. E digo também uma “velha” professora de filosofia porque posso me permitir, hoje, nesse momento de minha carreira acadêmica, algumas provocações que não vão (pelo menos, assim o espero!) colocar em questão nem meu contrato nem meu emprego. Imagino que os jovens colegas, com ou sem vaga ainda, não ousariam pensar de tal maneira, pelo menos explicitamente, porque têm que assegurar primeiro seu lugar no sol. Ofereço a eles um pequeno descanso na sombra.
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Liberdade em Sartre

      A tarefa de compreender o significado e o alcance da liberdade na filosofia de Sartre pode começar por um comentário rápido da frase que se tornou uma espécie de lema do existencialismo: “A existência precede a essência”. Na tradição filosófica, o conhecimento sempre seguia uma ordem bem determinada, primeiramente o conhecimento da essência de algum objeto (inclusive o ser humano), uma vez que aí se encontrariam os atributos principais que definiam o ser e a verdade daquilo que deveria ser conhecido; em segundo lugar atentava-se para a existência, esfera da manifestação das qualidades definidoras ou essenciais do objeto. Essa precedência da essência em relação à existência tinha um propósito claro: tratava-se de compreender, antes de tudo, as noções que determinavam o objeto a ser tal como ele se nos apresentava, pois os vários modos de seu aparecimento só podiam provir de suas determinações. Por isso, nas teorias tradicionais, conhecer significa principalmente determinar, isto é, entender que o objeto é necessariamente o conjunto de suas determinações. Supunha-se que essa visão garantisse a exatidão do conhecimento.
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