O Livro VII da obra aristotélica Ética a Nicômaco assume como objetivo e intenção estabelecer as diferenças entre o homem continente e incontinente. De início, o autor destaca que é louvável a atitude do homem continente, uma vez que age assim, resiste conforme a reta razão e vence um sentimento contrário a mesma.
      O autor apresenta as disposições a serem evitadas como o vício, a incontinência e a bruteza. “Os contrários de duas delas são evidentes: a uma chamamos virtude e a outra chamamos continência” (p. 117). O paradoxo da bruteza é um tipo de virtude sobre-humana e que seria difícil para o homem encontrá-la.

      A incontinência e a moleza, tema que também será abordada pelo autor, não são coisas boas e nem dignas de louvor, mas a continência e a fortaleza são.
      O homem incontinente realiza ações segundo suas paixões, mas o continente que conhece seus apetites maus recusa a segui-los porque tem como base a razão. Diz-se que os homens dotados de sabedoria prática não podem ser incontinentes e que os homens são incontinentes quando estão ligados à cólera, à honra e ao lucro.
      Para Sócrates, o homem que conhece a ação não pode ser incontinente em relação à mesma. Aqueles que agem contra o conhecimento, na verdade não o possuem, mas possuem uma determinada opinião.
Ao homem continente está implícito ter bons e maus apetites, “pois, se os apetites são bons, a disposição de caráter que nos impede a segui-los é má, de forma que nem toda continência será boa: e, se eles são fracos sem serem maus, não há nada de admirável em refreá-los: e se são fracos e maus, tampouco é grande proeza resistir-lhes” (p. 119).
Se a continência leva um homem a sustentar uma opinião de maneira feroz, sem considerar a reta razão, ela é algo errado, uma vez que leva o homem a sustentar uma opinião falsa, já se a incontinência leva o homem a mudar de opinião, em alguns casos esta é boa.
      Em relação às pessoas incontinentes analisa-se se elas agem de modo consciente ou não, e se assim o fazem, em que sentido e espécie isso pode ser englobado.Os incontinentes possuem conhecimentos, porém agem como loucos e embriagados, ou seja, sem refletir e sob influências das paixões. Um incontinente age segundo uma opinião que não lhe parece
contrário, porém, é contrária à reta razão. Também o mesmo não age conforme um conhecimento, mas sim conforme um conhecimento sensorial.
      O autor questiona a possibilidade de um homem ser incontinente em sentido absoluto “ou se todos os homens são incontinentes, ou são em sentido particular” (p. 122), e existindo qual o objeto que se relaciona.
É certo que tanto os incontinentes ou os dotados de fortaleza se relacionam com prazeres e dores. As coisas que causam alguns prazeres são necessárias, enquanto outras admitem excesso, mas devem ser escolhidas (vitória, honra e dinheiro). E nisso, o homem pode ser incontinente por especificação e não ser censurado, ao passo que, o incontinente referente ao prazer físico é censurado.
      Em relação aos homens que se desviam da dor e buscam apenas as coisas agradáveis, esses são chamados de incontinentes em um sentido absoluto. Com efeito, o homem pode ser considerado incontinente por especificação.
      Não se aplica o título de incontinente àqueles que por força da natureza ou hábitos relativos à doença agem de forma incontinente. Os que agem contrários a esses modos são considerados brutais, ou seja, pessoas que não se contêm ou assimilam hábitos cruéis sem estarem ligados a esses fatores.
      A incontinência relativa à cólera é menos vergonhosa do que a incontinência relativa aos apetites. Um homem encolerizado ouve o raciocínio até certo ponto, mas acaba por agir sem concluí-lo e os homens que agem pelos apetites assim agem porque não se utilizam do raciocínio.
      Em se tratando de prazer, dor, apetite e aversão que nos vem do paladar e do tato, é possível ser continente ou incontinente em relação aos prazeres, como também é possível ser mole ou forte em relação às dores.
O homem que busca os prazeres além do necessário (comer, divertir, etc.) é intemperante e aqueles que não buscam nenhum tipo de prazer são contrários ao intemperante, porém, a ação do temperante que ocupa a posição mediana é digna de louvor.
      O homem intemperante é pior que o homem incontinente, porque para o primeiro não há cura, já para o segundo, sim. A incontinência se difere do vício, porque o viciado não tem consciência de si mesmo e o incontinente tem. O homem incontinente tende a buscar os prazeres corporais contrários à razão não por convicção, enquanto o intemperante age dessa forma por acreditar que o homem é feito para buscar o prazer. O homem continente é o que age conforme a razão enquanto o incontinente não se detém a ela. As disposições contrárias a continência são más.
      Existe uma diferença entre a continência e temperança, embora ambas não contrariem a reta razão levadas por prazeres corporais, mas o continente possui apetites maus ao passo que o temperante não o possui. Também o temperante não sente prazer contrário à razão e o continente sim, porém não se deixa conduzir-se por ele. A diferença existente entre o homem intemperante e o incontinente, embora ambos busquem os prazeres corporais, é que o intemperante assim o faz por convicção, enquanto o incontinente não.
      O homem incontinente difere-se daqueles que possuem sabedoria prática, pelo fato de ser incapaz de agir, também se difere daquele que contempla a verdade e sabe sobre ela. O homem incontinente é comparado a um homem que sabe a verdade, mas não a coloca em prática.
      “O estudo do prazer e da dor pertencem ao campo filosófico político, pois, é ele o arquiteto do fim com vistas na qual dizemos que uma coisa é boa e outra é má ou é boa em absoluto.” (p. 131)
      A princípio, Aristóteles afirma que o prazer não é um bem e que a maioria deles é má e se torna um obstáculo ao pensamento, também as crianças e os brutos buscam por eles. O homem temperante evita o prazer e as pessoas dotadas de sabedoria prática evitam as dores.
      Por fim, Aristóteles afirma “que nem a sabedoria prática, nem a qualquer estado do ser é impedido pelo prazer que ele proporciona. São os prazeres estranhos que possuem um efeito impeditivo, visto que, os prazeres advindos do pensar e do aprender nos fazem pensar e aprender ainda mais” (p.132). Os prazeres são dignos de escolhas, sem excessos e que as dores são expulsas do corpo e por isso são intemperantes.


Francineli Teixeira Reyes
Segundo Período de Filosofia

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco; Poética/ Aristóteles. Trad. Leonel de Vallandro e Gerd Bornheim; seleção de textos de José Americo Motta Pessanha. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 117-136. (Os Pensadores)
AURÉLIO, Buarque De Holanda Ferreira. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Ed 3. 1 impr. Editora Positivo, 2004 by Regis Ltda. (dicionário eletrônico, versão 5.0)
Commentary on the Nicomachean Ethics. TRANSLATED BY C. I. LITZINGER, O.P. Library of Living Catholic Thought .v. 1. Boston,1964.
Oxford University Press. Second edition. Dicionário Oxford Escolar para estudantes brasileiros de inglês.
SITE: http://projetophronesis.wordpress.com/2009/04/07/resumo-de-etica-a-nicomaco-de-aristoteles/ acesso em 14 set 09, as 13h 21min