(…)
Nossa iniciação no verdadeiro metódo filosófico data do dia em que rejeitamos as soluções verbais, tendo encontrado na vida interior o primeiro como de experiência. Todo progresso posterior foi um alargamento desse campo. Estender logicamente uma conclusão, aplicá-la a outros objetos sem ter realmente alargado o círculo de suas investigações, é uma inclinação natural do espírito humano, mas à qual é preciso não ceder nunca. A isto se abandona ingenuamente a filosofia quando ela é dialética pura, isto é, tentativa para construir uma metafísica com os conhecimentos rudimentares que se encontram armazenados na linguagem. Ela continua a fazé-lo quando erige conclusões tiradas de certos fatos em “princípios gerais” aplicáveis ao resto das coisas. Toda a nossa atividade foi um protesto contra essa maneira de filosofar. Tivemos, assim, de deixar de lado questões importantes, às quais teríamos facilmente dado um simulacro de respostas prolongando até elas os resultados de nossos trabalhos precedentes. Só respondemos a cada uma se nos são concedidos o tempo e a força de resolvê-la nela mesma, por ela mesma. Senão, reconhecidos ao nosso método por nos ter dado o que cremos ser a solução precisa de alguns problemas, constando que não podemos ir mais longe, ficamos por ai. Nunca nos empenhamos em escrever um livro.

Henri Bergson
{Paris, 18 de outubro de 1859 — Paris, 4 de janeiro de 1941}
Coleção “Os Pensadores”