Filosofia

Há que potenciar a Razão

      ”A razão não é simplesmente uma espécie de tendência automática. A razão está em boa medida baseada no confronto com os outros, quer dizer, raciocinar é uma tendência natural baseada, ou para nós fundada, no uso da palavra, no uso da linguagem; e o uso da linguagem é o que nos obriga a interiorizar o nosso papel social. A linguagem é sociedade interiorizada

      O elemento racional está em todos os nossos comportamentos, faz parte das nossas mais elementares funções mentais. Se alguém nos disser que ao meio-dia comeu uma feijoada e que a paella estava muito boa, imediatamente dizemos: “não pode ser; ou feijoada ou paella”. O próprio acto de nos darmos conta de que há coisas incompatíveis, de que as coisas não podem ser e não ser ao mesmo tempo, ou que as coisas contraditórias não podem afirmar-se simultaneamente, ou que tudo deve ter alguma causa, supõe exercícios de racionalidade.
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Hume e a origem das ideias

       Hume utiliza o termo “percepção” para referir quaisquer conteúdos da experiência (…). As percepções ocorrem quando o indivíduo observa, sente, recorda, imagina, e assim por diante, sendo que o uso atual da palavra cobre um leque muito menos vasto de atividades mentais. Para Hume, existem dois tipos básicos de percepções: impressões e idéias.

       As impressões constituem as experiências obtidas quando o indi­víduo observa, sente, ama, odeia, deseja ou tem vontade de algo. Hume descreve este tipo de percepções como sendo mais “vívido” do que as idéias, termo com que o filósofo parece querer afirmar que as impres­sões são mais claras e mais pormenorizadas do que as idéias. As idéias, por sua vez, são cópias das impressões. Trata-se dos objetos do pen­samento humano quando os indivíduos recordam a sua experiência ou exercitam a sua imaginação.
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Ano Vieirino

[ Para Um Homem Se Ver a Si Mesmo ]

Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três cousas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. Que cousa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo? Para essa vista são necessários olhos, é necessário luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?


[Padre António Vieira] – Sermão da Sexagésima

Filosofia e Enade 2008

Enfim temos as últimas informações sobre o Enade, agora com matéria especifica exigida para cada curso.

Art. 4º
A prova do Enade 2008, no componente específico da área de Filosofia, terá por objetivos:

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A Filosofia na obra de Machado de Assis


“Uma vez aliviado, respirei à larga, e deitei-me a fio comprido, enquanto os pés, e todo eu atrás deles, entrávamos numa relativa bem-aventurança. Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro. Enquanto esta idéia me trabalhava no faoso trapézio, lançava eu os olhos para a Tijuca, e via a aleijadinha perder-se no horizonte do pretérito, e sentia que o meu coração não tardaria também a descalçar as suas botas. E descalçou-as o lascivo. Quatro ou cinco dias depois, saboreava esse rápido, inefável e incoercível momento de gozo, que sucede a uma dor pungente, a uma preocupação, a um incômodo… Daqui inferi eu que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome, com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre. Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas.”

[Machado de Assis] – Memórias Póstumas de Brás Cubas


      E hoje, cá estamos para agradecer o presente que o 2º Período de Filosofia ganhou do professor Giovanni Marques Santos, sim um presente, não consegui encontrar outra palavra para a palestra sobre o magnífico Machado de Assis e a filosofia envolvida em suas palavras.
      Assim, deixo aqui o agradecimento de coração, de todos os alunos do 2º Período de Filosofia, agradecendo a presteza e a generosidade desse grande professor.

O Amor de Si

       O egoísmo psicológico] diz-nos que toda a benevolência é simples hipocrisia, que a amizade é uma intrujice, que o espírito público é uma farsa, que a fidelidade é uma armadilha para conquistar o crédito e a confiança, e que, embora no fundo todos nós persigamos apenas o nosso interesse privado, usamos estes disfarces encantadores para fazer os outros baixar as suas defesas e expô-los ainda mais aos nossos estratagemas e maquinações.[…]

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Friedrich Wilhelm Nietzsche

O que é então a verdade? Uma multidão movente de metáforas, de metonímias, de antropomorfismos, em resumo, um conjunto de relações humanas poeticamente e retoricamente erguidas, transportadas, enfeitadas, e que depois de um longo uso, parecem a um povo firmes, canoniais, e constrangedoras: as verdades são ilusões que nós esquecemos que o são, metáforas que foram usadas e que perderam a sua força sensível, moedas que perderam o seu cunho e que a partir de então entram em consideração, já não como moeda, mas apenas como metal.

Friedrich Wilhelm Nietzsche
(Röcken, 15 de Outubro de 1844 – Weimar, 25 de Agosto de 1900)
O Livro do Filósofo, p.94

Depois das Eleições…

O governo do mundo começa em nós mesmos. Não são os sinceros que governam o mundo, mas também não são os insinceros. São os que fabricam em si uma sinceridade real por meios artificiais e automáticos; essa sinceridade constitui a sua força, e é ela que irradia para a sinceridade menos falsa dos outros. Saber iludir-se bem é a primeira qualidade do estadista. Só aos poetas e aos filósofos compete a visão prática do mundo, porque só a esses é dado não ter ilusões. Ver claro é não agir.


Bernardo Soares, Livro do Desassossego.

Na realidade

       Na realidade, não se pode fixar de uma vez por todas um sistema fechado de leis dialéticas à maneira das formas lógicas de Aristóteles ou de Santo Tomás, das categorias de Kant ou da lógica de Hegel. O método e os princípios do marxismo exigem que se estudem as leis da dialética, não como as normas imutáveis de uma razão absoluta, mas como um balanço, para cada grande período histórico, das vitórias da racionalidade.
       A dialética não é nem uma razão constituinte transcendente à história que ela informa, nem ma razão constituída, esclerosada e coagulada numa etapa de seu desenvolvimento, nem uma simples hipótese de trabalho que se abandona do mesmo modo como foi escolhida, simplesmente por sua comodidade, as sim o produto de uma epigênese” histórica: cada etapa de seu desenvolvimento consolida o adquirido no omento mesmo em que é superado.
       É o arcabouço de uma história que se está fazendo.


R. Garaudy, Perspectivas do homem
3. ed, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968, p. 297.