Filosofia

Fotos 1º Dia

Uma filosofia da fotografia

      E se afinal, quando fotografamos, estivermos a ser seduzidos por um aparelho e por uma indústria publicitária responsável pela venda de material fotográfico? Se o aparelho (fotográfico) é apenas propriedade de alguns, haverá um fotógrafo-proletário e um fotógrafo-capitalista? Estas são algumas das perguntas que Flusser esboça no seu Ensaio sobre a Fotografia, perguntas que julga não serem as mais importantes, nesta era das imagens técnicas, mas sim o programa da máquina.

      O que lhe chama a atenção no aparelho é o facto deste ser uma caixa negra, que o homem sabe como alimentar e como fazer cuspir fotografias. O que se passa dentro da caixa fica no âmbito do desconhecido.
“Estar programado é o que caracteriza o aparelho” pode ler-se neste ensaio, e é este programa que o aparelho pretende esgotar, cativando o vício do fotógrafo em capturar a realidade, vez após vez, não lhe contando que este pode ser um fantoche nas mãos de um aparelho que quer apenas que lhe sejam descobertas todas as suas virtualidades. Fotografar é jogar o jogo que
o aparelho oferece mas é também levar avante as intenções do fotógrafo que pretende a realização do universo fotográfico.
      Analisar o gesto de fotografar, gesto de caça, pode ajudar-nos a compreender a existência humana numa situação pós-industrial e a averiguar onde paira a liberdade do indivíduo. É nesse sentido que Flusser julga ser necessária uma filosofia da fotografia.
Villém Flusser, Ensaio sobre a fotografia: para uma filosofia da técnica, Lisboa, Relógio d’Água, 1998.

Fotografia #12

O Imaginário a Partir da Natureza

      A câmera fotográfica é para mim um caderno de esboços, o instrumento da intuição e da espontaneidade, o mestre do instante que, em termos visuais, ao mesmo tempo questiona e decide. Para “significar” o mundo é preciso sentir-se implicado naquilo que se recorta através do visor. Essa atitude exige concentração, sensibilidade, um senso de geometria. É por uma economia de meios e, principalmente, um esquecimento de si que se chega à simplicidade de expressão. Fotografar: é prender o fôlego quando todas as nossas faculdades convergem para captar a realidade fugidia; é aí então que a apreensão de uma imagem é uma grande alegria física e intelectual. Fotografar: é num mesmo instante e numa fração de segundo reconhecer um fato e a organização rigorosa das formas percebidas visualmente que exprimem e significam esse fato. É pôr na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração. É um modo de viver.

Henri Cartier-Bresson: FotógrafoCoedição Cosac Naify e Edições SESC-SP

Fotografia #11

“Fazer uma imagem de um objeto significa extrair todas as suas dimensões, sucessivamente: o peso, a profundidade, o cheiro, o espaço, o tempo, a continuidade e obviamente o sentido”.

- Jean Baudrillard

Fotografia #10

“(…) a imagem fotográfica é dramática. Por seu silêncio, por sua imobilidade. (…) A fotografia é nosso exorcismo. A sociedade primitiva tinha suas máscaras, a sociedade burguesa seus espelhos, e nós temos nossas fotografias.”

Jean Baudrillard. O exotismo radical. A transparência do mal – ensaio sonre os fenômenos extremos, Campinas, São Paulo, 1992, 2 edição, p.160.

Fotografia #09

(…)exaltação do que ela é em sua evidência pura, sem intercessões, sem concessões, sem floreios. Apanhadas em seu aparelhos mais simples, libertas de uma identidade que pesa sobre elas como uma moldura, as pessoas estão por um instante, aquele da foto, ausentes da própria vida, ausentes da própria infelicidade, elevadas de sua misérias para a figuração trágica, impessoal do próprio destino. Aí está o essencial: dar a ver as pessoas, não em sua infelicidade, mas em seu destino. Para tanto, é necessário que o fotógrafo seja, a um só tempo inexistente e um deles.

- Jean Baudrillard

Fotografia #08

Nela se desmascara a atitude de uma fotografia capaz de realizar infinitas montagens com uma luta de conservas, mas incapaz de compreender um único dos contextos humanos em que ela aparece. Essa fotografia está mais a serviço do valor de venda de suas criações, por mais oníricas que sejam, que a serviço do conhecimento. Mas, se a verdadeira face dessa criatividade fotográfica é o reclame ou a associação, sua contrapartida legítima é o desmascaramento ou a construção. Com efeito, diz Brecht, a situação se complica pelo fato de que menos que nunca a simples reprodução da realidade consegue dizer algo sobre a realidade.”

BENJAMIN, Walter. Pequena História da Fotografia IN Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. São Paulo: editora Brasiliense, 1993. Pg. 106

Fotografia #07

“Estranhamente, diante do retrato dessa ou daquela pessoa, a questão que se coloca não é saber como ela era antes, nos segundos, dias ou anos precedentes, nem como será depois, quais serão seus movimentos imediatos exatamente após a foto. Tudo isso se dilui em proveito da evidência da própria fotografia. (…) A fotografia existe como algo articulado a um conjunto de referentes supostos mas inacessíveis. Seu efeito de verdade depende da relação que ela suscita entre a autenticação do que é dado a ver e a impossibilidade de ver a coisa, sem que se faça referência a um antes e depois. (…) nesse sentido é que se considera a fotografia como sendo, antes de tudo, a paralisação ou estabilização de um movimento que somos levados a inventar”

REVISTA IMAGENS. Editora da Unicamp. Número 3, dezembro de 1994. Pg. 103

Fotografia #06

— Ora, crês que, se um homem fosse capaz de fazer indiferentemente o objeto a imitar e a imagem, optaria por consagrar a sua atividade ao fabrico das imagens, e poria esta ocupação no primeiro plano de sua vida, como se para ele nada houvesse de melhor?
— Não, por certo.
— Mas se fosse realmente versado no conhecimento das coisas que imita, suponho que se aplicaria muito mais a criar do que a imitar, que procuraria deixar atrás de si grande número de belas obras, como outros tantos monumentos, e que desejaria muito mais ser louvado do que louvar outros.
— Assim o creio – respondeu pois não há, nesses dois papéis, igual honra e proveito.

Platão. República, vol. 2. Tradução de J. Guinsburg, São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965. Pg.219-223