Além das circunstâncias políticas e sociais, relativamente exteriores ao ambiente acadêmico, que mobilizou estudantes e operários, em 1968, o nome de Hebert Marcuse se tornou reconhecido como a fonte na qual os rebeldes encontravam o “substrato teórico” para sua militância transformadora. É nesse momento que o filósofo alemão, integrante da segunda geração da Escola de Frankfurt, exilado nos Estados Unidos durante a guerra nazi-fascista e que se tornou professor da Universidade de San Diego, Califórnia, passa a ser uma das figuras mais citadas e conhecidas na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil.

      ”O que distingue o pensamento de Marcuse é o modo especial com que se relacionam democracia e revolução” afirma o professor de Filosofia da Universidade de Santa Catarina (UFSCar) Wolfgang Leo Maar. Esse aspecto das idéias marcuseanas ganha relevo na medida em que a chamada esquerda oficial, filiada à orientação soviética, subestimava a questão democrática.

      A afinidade do pensamento de Marcuse com o processo em curso em 1968 tem muito a ver, de acordo com o professor de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina, Robespierre de Oliveira, com a leitura dos Manuscritos Econômico-Filosoficos de Marx feita por Marcuse logo após a publicação dos mesmos, em 1932. Nesse texto, escrito na juventude, Marx aborda questões que estão “para além do economicismo vigente”. Até então, adverte Oliveira, o marxismo pouco tinha a dizer a respeito da alienação dos homens em sociedade

      Afinal, explica Oliveira, o âmbito da atuação política, que antes se considerava restrito às classes em seu sentido tradicional no plano da economia, foi ampliado para uma luta geral contra a alienação capitalista: essa seria a marca dos novos movimentos sociais, desde os movimentos de estudantes, até o feminismo, os movimentos das minorias, a denúncia da barbárie militar no Vietnã.

      No dossiê Hebert Marcuse, publicado na edição de julho da revista Cult, Eduardo Socha nota que, “a força destrutiva de seu pensamento, o engajamento político e a presença carismática como professor da Universidade de San Diego (Califórnia) tornaram o filósofo alemão uma das figuras mais citadas. Isso, porém, não significa que as idéias e os livros de Marcuse tenham sido suficientemente estudados, admite o professor de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Jorge Coelho Soares.

      A originalidade de1968, conforme Hebert Marcuse, “é ter produzido uma nova definição de revolução colocando-a em relação com novas possibilidades de liberdade, novas potencialidades do desenvolvimento socialista, ao mesmo tempo produzidas e bloqueadas pelo capitalismo avançado”. Para Marcuse, naquela oportunidade “novas dimensões abriram-se assim para a transformação da sociedade. De agora em diante, essa transformação não pode ser apenas uma subversão econômica e política, isto é, o estabelecimento de outro modo de produção e de novas instituições; trata-se antes de tudo de subverter o sistema dominante de necessidades e suas possibilidades de satisfação”.

Fonte: Jorge Frederico / Agência Senado