Para Aristóteles a virtude está sempre em fazer a coisa justa no momento e do modo oportunos. Sua ética do meio-termo pode ser aplicada não só aos contemporâneos seus, mas também em nossos dias. De fato, atualizando o pensamento do filósofo, podemos nos questionar sobre o ser-ético do nosso tempo. Ao considerar-se o exposto no Livro IV de sua Ética a Nicômaco, percebemos claramente a tendência de nossa sociedade atual em “viver de extremos”. A lógica do consumismo, da lei de mercado, impõe ao homem a prodigalidade, ainda quando este não tem condições para isso. De fato, hoje, ser homem é ser consumidor. Consumir é condição para existir. O gasto, contudo, deve ser egoísta, fazendo valer uma ética individualista e hedonista a qualquer preço. Neste contexto há pouco espaço para ações nobres como a caridade, que passam a ser vistas como algo excessivamente sentimental e piegas. Devemos considerar ainda, que o orgulho e a arrogância muitas vezes nascem da prodigalidade ou da avareza. A exclusão social que vivenciamos em nosso dia-a-dia basta para demonstrar essa tese.
        E como manter o bom-humor em época de crise econômica? Suicídios ocorrem por todo o mundo em tempos de crise de capital e ninguém se envergonha disso. Vergonha, aliás, é algo inexistente na elite governante. Não porque tenha alcançado as virtudes da bondade e da justiça como coloca Aristóteles, mas porque não consideram erro perpetuar um sistema social de vícios e exploração que já nasceu morto e continua a coroar a morte como prêmio da indiferença. Honra? Honrado é o trabalhador que sofre de sol a sol na labuta diária para ganhar um pão para o dia seguinte. Esse pobre homem pobre, porém, sofre também de amnésia – ou de ignorância, o que é mais provável – do que seja honra e sonha deixar “essa vida” ganhando na Megasena ou uma outra das tantas loterias que circulam por aí para poder enfim “parar de trabalhar”. É, de fato, trabalho não é visto como coisa boa porque, do modo como se dá no Brasil, baseado na exploração e por vezes, até na humilhação do trabalhador, não é honroso. Vale a lógica do consumo e do bem-viver. Mas isso é para aqueles que podem. Talvez o jeito seja “virar” político, esses que ganham muito e não trabalham, que são pródigos ao gastar o dinheiro público em benefício próprio e avaros na hora de devolver ao povo o seu imposto em forma de melhorias sociais. É de se imaginar o que pensaria Aristóteles da nossa pólis. Mas, talvez, o pior vício do brasileiro seja a pacatez… A irascibilidade é condenada por Aristóteles, mas convenhamos que calma tem limite.


Benedito Fernando Pereira
Quarto Período de Filosofia