É hábito na cultura ocidentalizada, e, especificamente em nosso país, comemorar-se o dia dos diferentes profissionais. É uma forma carinhosa de reconhecer que todos, indispensavelmente todos, são importantes e necessários para o desenvolvimento da nação. E isso de fato o é.

      Neste dia 23 de agosto, entretanto, comemoramos o “dia” de um profissional ainda não muito “presente” na sociedade. Ou, quando presente, passa quase que de forma imperceptível: o filósofo. E isso tem uma razão de ser: muitas vezes ele é lembrado no dia do professor, uma das principais atuações do formado em Filosofia; ou ainda, na data em que se comemoram outros profissionais: editores/críticos de revistas e jornais, escritores, pesquisadores… que também são campos de atuação do filósofo.

      A Filosofia hoje, diferentemente da Antigüidade – quando surgiu – ou da Modernidade – quando se consolidou – preocupa-se em olhar o mundo não com os olhos da competição, da busca desenfreada pelos resultados positivos, da ambição pelo poder ou status social… O olhar do filósofo é um olhar para o que é e como é, propondo como deveria ser. É um olhar de interrogação para o presente, mas de proposição para o futuro. Nessa perspectiva, as situações que envolvem o meio ambiente, a ética, as relações entre os sujeitos, as ciências, os comportamentos, a política, a economia, as religiões, a educação, a arte… são revisadas, pensadas e propostas em outro patamar.

      O filósofo é esse sujeito que, sem esquecer o passado, mas alimentando-se nele e dele, questiona o presente e projeta o futuro. Ser filósofo é acreditar nas pessoas, é acreditar e lutar por uma vida e por um mundo mais justo, organizado e humano. É acreditar na pessoa antes do que “o que faz essa pessoa, qual sua profissão, qual seu lugar na sociedade”. Ser filósofo é não ter medo de apontar o erro. É ter a coragem de apresentar possibilidades.

      Karl Jaspers, filósofo contemporâneo, assim manifestou-se a propósito da Filosofia e do filósofo: “[...] um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a Filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente.”

      Que o 23 de agosto alimente nossos sonhos e utopias de um mundo melhor. Que tenhamos a coragem de “pensar filosoficamente”. Afinal, recordando Gramsci, “todos somos filósofos”. Aos filósofos “de profissão”, minha saudação. Aos filósofos “de coração e ação”, meu reconhecimento. A todos, parabéns!

Renato Nunes
Coordenador do Curso de Filosofia da Unisc
Fonte: Gazeta do Sul