Para falar de Husserl necessitamos de definir o conceito de “Epoché”, porque sem isso a maioria não o compreenderia. “Epoché” deriva do grego antigo e significa “paragem”, “interrupção” ou “suspensão de juízo”.

      Segundo Husserl, “Epoché” significa a suspensão do mundo, como que parado no tempo, embora com todas as suas características presentes e, por isso, passíveis de serem analisadas “de fora”, por um observador exterior. O “Epoché” de Husserl que suspende o mundo no tempo e no espaço, permite a quem medita conhecer-se a si próprio e tomar consciência da sua própria essência, e a autoconsciência adquirida desta forma é o “eu puro” de Husserl (ou o “eu transcendental”).

      Existe na essência do “Epoché” de Husserl uma ideia de desprendimento espiritual em relação às coisas mundanas, porque através do Epoché, “nos tornamos observadores desinteressados do mundo”. Existe algo de mediúnico (no sentido espiritualista) na filosofia de Husserl, quando ele dá a primazia à intuição da essência em detrimento dos fatos mundanos; trata-se de uma “ciência” teórica (contemplativa), intuitiva e não-objetiva.

Caracterizando a qualidade metodológica da Epoché, Husserl nomeou duas etapas principais de redução (“suspensão”), no caminho de uma filosofia fenomenológica:

a) Redução Psicológica: é a recusa, como filósofo, em aceitar a evidência empírica, de uma atitude natural, como sendo suficiente para a fundação de um verdadeiro conhecimento. Resumidamente: a primeira etapa da Epoché estará realizada quando tudo que nos é exterior, mesmo as outras pessoas, estiver colocado “entre parênteses”.

b) Redução Fenomenológica ou Transcendental: para Husserl, a característica da “atitude natural” não se limita à forma pela qual nos relacionamos com o mundo exterior; também os atos da consciência e o “eu” podem ser tratados como o mundo externo. Husserl propõe então que coloquemos também “entre parênteses”, a própria consciência, o “eu” e os seus atos. É preciso refletir sobre o refletido. É preciso pensar o pensado (reflexão transcendental). Passamos, assim, do ego cogito cartesiano para o ego cogito cogitatum da fenomenologia husserliana (HUSSERL, E. [1972 (1913)] Ideas I- General Introduction to pure Phenomenology, New York: Collins Books, p. 155 a p. 165).

“O espírito, e só ele, tem uma essência em si mesmo e por si mesmo, é autónomo , e é apenas tendo em conta esta autonomia que pode ser tratado de uma forma verdadeiramente racional e de um modo radicalmente científico” – Husserl, in “Crise das Ciências Europeias”