Artigos com o marcador Santo Agostinho

Livre Arbítrio

INTRODUÇÃO

      Agostinho é um dos grandes homens da história do cristianismo. Suas obras são estudadas minuciosamente até nossos dias. Segundo Moreschini (2008, p.440), “a bibliografia agostiniana é infindável e se calcula recentemente que sobre o bispo de Hipona se publica um livro por semana”. Sua caminhada dramática até sua conversão desperta milhares de religiosos tanto nas tradições católica romana, ortodoxa e protestante. Autores posteriores a ele citam-no com freqüência. Filósofos posteriores a Agostinho refletiram sobre ele. A análise agostiniana é uma preocupação presente em nossos dias. Muitos ainda se debruçam sobre a existência ou não da liberdade humana. Em uma época de crise ética e de valores, como a presente, sempre surgirão questionamentos sobre o homem o que certamente abordará a liberdade deste.
Mais >

O Cogito em Agostinho

Santo Agostinho acreditou ter superado os acadêmicos, levando o ceticismo destes à última conseqüência, ao dizer “se duvido, no ato de duvidar tenho consciência de mim mesmo como o que duvida. Se me engano, sou, pois o que não é não se engana.” Com a formulação si fallor sum, Agostinho antecipa Descartes em séculos.

Razão: Tu que queres conhecer-te a ti mesmo, sabes que existe?

Agostinho: Sei.

Razão: De onde sabes?

Agostinho: Não sei.

Razão: Sabes que te moves?

Agostinho: Não sei.

Razão: Sabes que te pensas?

Agostinho: Sim

Razão: Portanto, é verdade que pensas?

Agostinho: Sim.

Razão: Tu queres existir; viver e entender, mas existir para viver e viver para entender. Portanto, sabes que existes, sabes que vives, sabes que entendes.”

{Agostinho. Solilóquios. II, 1, 1.}

Quem, porém, pode duvidar que a alma vive, recorda, entende, quer, pensa, sabe e julga? Pois, mesmo se duvida, vive; se duvida lembra-se do motivo de sua dúvida; se duvida, entende que duvida; se duvida, quer estar certo; se duvida, pensa; se duvida, sabe que não sabe; se duvida, julga que não deve consentir temerariamente. Ainda que duvide de outras coisas não deve duvidar que duvida. Visto que se não existisse, seria impossível duvidar de alguma coisa.

{Agostinho. A Trindade. X, 10, 14.}

Pois, se me engano, existo. Quem não existe não pode enganar-se; por isso, se me engano, existo. Logo, quando é certo que existo, se me engano? Embora me engane, sou eu que me engano e, portanto, no que conheço que existo, não me engano. Segue-se também que, no que conheço que me conheço, não me engano.
Como conheço que existo, assim conheço que conheço.

{A Cidade de Deus. XI, XXVI.}

O conhecimento sensível

       Quando se diz que o mel é doce, não se pretende significar que ele percebe a doçura, mas que causa a sensação de doçura. A sensação, ao invés, é própria à alma: seria um erro misturar qualquer coisa de corpóreo à idéia do conhecimento sensível. A sensação de dor, por exemplo, é aparentemente experimentada pelo corpo; na realidade, porém, é a alma que sofre através do corpo.
Mais >