Inicialmente, o Professor Giovanni Marques Santos, falou sobre a vida de Machado de Assis e fatos importantes de sua história pessoal que possivelmente marcaram sua obra, como no caso do tema “a ascensão do mestiço”, visto sua condição de mulato, neto de escravos alforriados; e as outras enfrentadas por Machado no início de sua carreira literária. Além de muitas dificuldades de ordem social e financeira, como se sabe, Machado era míope (e quase vesgo), gago, epilético, diabético (doença que lhe causou uma cegueira temporária). Apesar de tantas barreiras, Machado percorreu o inimaginável trajeto do menino órfão vendedor de doces à Primeiro Presidente da Academia Brasileira de Letras. De fato, talvez graças à essas “barreiras”, é que Machado tempera com boa dose de sarcasmo suas obras.
      Pulando a fase romântica, ou romancista, visto que essa não interessa muito à filosofia por seu caráter básico de entretenimento para as jovens senhoritas da época, ou seja, “leitura-água-com-açucar-para-mocinhas-casadoiras”, aprofundamos o estudo das obras de sua fase realista iniciada com “Memórias póstumas de Braz Cubas”, e seguindo em “Quincas Borba”, “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”.
      Sim! Ao contrário do que acreditam os desavisados, Dom Casmurro não é um romance. Como todas as outras obras do período realista de Machado de Assis, Dom Casmurro tem por objetivo central mostrar ao homem sua própria mediocridade. Aliás, um ponto marcante em sua obra é essa visão pessimista em relação ao homem . Especialmente nesta obra, Machado ainda dirige uma certa crítica à obra “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz, onde o autor acredita poder descrever a realidade de forma fidedigna. Frente a isso, Machado nos mostra, em “Dom Casmurro”, a realidade sob o ponto de vista de um marido ciumento, atormentado em seus devaneios. Tendo somente essa visão de mundo, ele procura colocar o leitor sobre a questão: o que Bentinho percebe e relata é real?
Já em “Memórias Póstumas de Braz Cubas”, fartamente citada durante o curso, Machado revela a atitude essencialmente filosófica do distanciamento reflexivo, onde o narrador e personagem são um mesmo defunto que, por conta desta sua condição, se mostra sem comprometimento algum com críticas e juízos posteriores.
      Embora demonstrando por diversos momentos certa atitude filosófica e, por vezes, a influência de filósofos como Montaigne, Pascal e Schopenhauer, Machado não se enquadra em nenhuma corrente filosófica específica, chegando mesmo a ridicularizar certos aspectos filosóficos com os quais discorda. Declara, inclusive, não fazer parte de nenhuma delas, principalmente ao ceticismo, ao qual ainda é frequentemente associado.
      Sob essas considerações se deu por encerrado o breve curso sobre a filosofia na obra deste gênio da literatura brasileira, deixando em todos os presentes aquela sensação “filosófica” (por que não?) de sede por mais cursos como este.

Escrito por: Ana Flavia – 2º Período de Filosofia