Resumo

Este artigo faz referência à obra de SÃO JUSTINO (Apologia I e II: diálogo com Trifão) dirigida ao Imperador Tito, ao seu filho Veríssimo, filósofo, e a Lúcio, filho natural do César, filósofo, ao sacro império e a todo o povo romano, citando algumas teses relevantes deste importante filósofo, que foi um defensor dos ensinamentos de Cristo como a VERDADEIRA FILOSOFIA.

Introdução

JUSTINO DE ROMA nasceu em Flávia Neápolis (atual Nablus), na Síria Palestina ou Samaria. Sua educação infantil incluiu retórica, poesia e história. Como jovem adulto mostrou interesse por filosofia e estudou primeiro estoicismo e platonismo. Justino continuou usando a capa que o identificava como filósofo e ensinou estudantes em Éfeso e depois em Roma. Os trabalhos que escreveu inclui: duas apologias em defesa dos cristãos e sua terceira obra foi Diálogo com Trifão.

Justino foi introduzido na fé diretamente por um velho homem que o envolveu numa discussão sobre problemas filosóficos e então lhe falou sobre os profetas que vieram antes dos filósofos que profetizaram a vinda de Cristo. Assim, começou a lhe falar sobre Jesus. Disse o velho ancião a Justino:

“Reze antes de tudo que as portas da luz estejam abertas para você, porque ninguém pode ver e compreender, se Deus e o seu Cristo não lhe concederem entender”

Justino disse depois que “meu espírito foi imediatamente posto no fogo e uma afeição pelos profetas e para aqueles que são amigos de Cristo, tomaram conta de mim; enquanto ponderava nestas palavras, descobri que a sua era a única filosofia segura e útil”. A partir daí ele passou a estudar as sagradas escrituras e “se consagrou totalmente a expansão e defesa da religião cristã.” A convicção de Justino da verdade do Cristo era tão completa que ele teve morte de mártir sendo decapitado no ano 165 d.C..

Participação das criaturas racionais no Logos

O ponto central da apologética de Justino consiste em demonstrar que Jesus Cristo é o Lógos do qual todos os filósofos falaram, e, portanto, a medida que participam do Lógos chegando a expressar uma verdade parcial – vendo a verdade de modo obscuro – graças à semente do Logos que neles foi depositada podem dizer-se cristãos. Mas uma coisa é possuir uma semente e outra é o próprio Logos:

“Aprendemos que Cristo é o primogênito de Deus e que é o Lógos, do qual participa todo o gênero humano” (Justino, I Apologia, 46).

Justino, convencido de que a filosofia grega tende para Cristo, “acredita que os cristãos podem servir-se dela com confiança” e em conjunto, a figura e a obra do apologista “assinalam a decidida opção da Igreja antiga em favor da filosofia, em vez de ser a favor da religião dos pagãos”, com a qual os primeiros cristãos “rechaçaram com força qualquer compromisso”. Em sua primeira Apologia, conduziu uma crítica implacável com relação à religião pagã e a seus mitos, que ele considerava como caminhos falsos, diabólicos no caminho da verdade. Assim, Justino, e com ele os outros apologistas, marcaram a tomada de posição nítida da fé cristã pelo Deus dos filósofos contra os falsos deuses da religião pagã. Era a escolha pela verdade do ser, contra o mito do costume.
Justino insiste que os filósofos tomaram dos profetas e de Moisés as verdades que expressam em seus ensinamentos (I Ap, 59, 1-6; 60, 1-7) e identifica Cristo com a alma do mundo de Platão (Timeu, 366).

A ressurreição não é impossível

“Façamos uma suposição. Se não fossem o que são e de quem são e alguém lhes mostrasse o sêmen humano e uma imagem pintada de um homem, afirmando que esta se forma daquele, por acaso acreditaria antes de vê-lo nascido? Ninguém se atreveria a contradizer isso. Do mesmo modo, por nunca terem visto um morto ressuscitar, a incredulidade agora os domina. Da mesma forma, como no princípio não teriam crido que de uma pequena gota nasceriam tais seres e, no entanto, os veem nascidos, assim também considerem que não é impossível que os corpos humanos, depois de dissolvidos e espalhados como sementes na terra, ressuscitem a seu tempo, por ordem de Deus e se revistam da incorruptibilidade” (I Ap. 19, 2-4)

Os poetas gregos tiveram inspiração demoníaca

“Por fim, antes de tornar-se homem entre os homens [Jesus], houve alguns, digo, os demônios malvados, antes mencionados, que se adiantaram a dizer, por meio dos poetas, terem acontecido os mitos que inventaram. De modo que também foram eles que fizeram as obras vergonhosas e ímpias que disseram contra nós, sem que para isso haja qualquer testemunha ou demonstração” (I Ap. 23, 3).

Provas: Odeiam-se apenas aos cristãos. A primeira prova é que, quando dizemos tais coisas [a doutrina cristã] aos gregos, somos os únicos a ser odiados pelo nome de Cristo e nos tiram a vida, sem termos cometido crime algum, como se fôssemos pecadores (I Ap. 24, 1).

Platão se inspirou no profeta bíblico Moisés

“De modo que o próprio Platão, ao dizer: ‘A culpa é de quem escolhe. Deus não tem culpa’, falou isso por tê-lo tomado do profeta Moisés, pois se sabe que este é mais antigo do que todos os escritores gregos. Em geral, tudo o que os filósofos e poetas disseram sobre a imortalidade da alma e da contemplação das coisas celestes, aproveitaram-se dos profetas, não só para entender, mas também para expressar isso. Daí que parece haver em todos algo como germes de verdade. Todavia, demonstra-se que não o entenderam exatamente, pelo fato de que se contradizem uns aos outros”. (I Ap. 44, 8-10)

“O que Platão, explicando a criação, diz no Timeu sobre o Filho de Deus: ‘Deu-lhe a forma de X no universo’, ele o tomou igualmente de Moisés. De fato, nos escritos de Moisés conta-se que, no tempo em que os israelitas tinham saído do Egito e se encontraram no deserto, foram atacados por feras venenosas, víboras, áspides e todo tipo de serpentes, que causavam a morte do povo. Então, por inspiração e impulso de Deus, Moisés pegou bronze, fez uma figura de cruz e a colocou sobre o tabernáculo santo, dizendo ao povo: ‘Se olhardes para esta figura e crerdes, sereis salvos por meio dela.’ Feito isso, ele conta que as serpentes morreram e que o povo então escapou da morte. Platão deve ter lido isso e, não compreendendo exatamente, nem entendendo que se tratava da figura da cruz, tomou-a pela letra X grega, e disse que o poder que acompanha a Deus estava primeiro estendido pelo universo em forma de X. Ao falar do terceiro princípio, deve-se também ao fato de ter lido, como dissemos, em Moisés que o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Com efeito, Platão dá o segundo lugar ao Verbo, que vem de Deus e que ele disse estar espalhado em forma de X no universo; e dá o terceiro lugar ao Espírito que se disse pairar sobre as águas, e assim fala: ‘E o terceiro sobre o terceiro’.” (I Ap. 60, 1-7)

A Verdade em Cristo

“Com efeito, segundo julgamento prudente, as nossas doutrinas não são vergonhosas, mas superiores a toda filosofia humana”. (II Ap. 15, 2)

“Reafirmar a superioridade da religião cristã sobre toda filosofia e sobre todo ensinamento humano, pois só os cristãos possuem o Lógos inteiro, que é Cristo”. (pág. 88)

A semente do verbo

“Sabemos que alguns que professaram a doutrina estóica foram odiados e mortos. Pelo menos na ética eles se mostram moderados, assim como os poetas em determinados pontos, por causa da semente do Verbo [Jesus], que se encontra ingênita em todo o gênero humano. Assim foi Heráclito” (II Ap. 7/8, 1).

Possuímos o Verbo inteiro

“Com efeito, tudo o que os filósofos e legisladores disseram e encontraram de bom, foi elaborado por eles pela investigação e intuição, conforme a parte do Verbo que lhes coube. Todavia, como eles não conheceram o Verbo inteiro, que é Cristo, eles frequentemente se contradisseram uns aos outros. Aqueles que antes de Cristo tentaram investigar e demonstrar as coisas pela razão, conforme as forças humanas, foram levados aos tribunais como ímpios e amigos de novidades. Sócrates, que mais se empenhou nisso, foi acusado dos mesmos crimes que nós, pois diziam que ele introduzia novos demônios e que não reconhecia aqueles que a cidade considerava como deuses. O fato é que, expulsando da República Homero e outros poetas, ele ensinou os homens a rejeitar os maus demônios, que cometeram as abominações de que falam os poetas, e ao mesmo tempo os exortava ao conhecimento de Deus, para eles desconhecido, por meio de investigação racional, dizendo: ‘Não é fácil encontrar o Pai e artífice do universo, nem, quando o tivermos encontrado é seguro dizê-lo a todos’. Foi justamente o que o nosso Cristo fez por sua própria virtude. Com efeito, ninguém acreditou em Sócrates, até que ele deu a sua vida por essa doutrina; em Cristo, porém, que em parte foi conhecido por Sócrates, pois Ele era e é o Verbo que está em tudo, e foi quem predisse o futuro através dos profetas e, feito de nossa natureza, por si mesmo nos ensinou essas coisas” (II Ap. 10, 1-7).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

JUSTINO, mártir. Santo Justino de Roma. I e II Apologias: diálogo com Trifão. [introdução e notas Roque Frangiotti; tradução Ivo Storniolo, Euclides M. Balancin]. São Paulo: Paulus, 1995 (Patrística)


Rogério de Paula e Silva
Quinto Período de Filosofia