A compreensão de cada um destes conceitos e sua inter-relação torna-se fundamental para uma compreensão aprofundada da temática em questão.

      A Filosofia como amor ao saber e investigação reflexiva crítica aprofundada está intimamente relacionada com a questão da linguagem, não só porque é por intermédio da linguagem que construímos o nosso pensamento e o exprimimos, mas também porque através da linguagem o comunicamos aos outros, possibilitando deste modo a posição reflexiva crítica própria da filosofia, nomeadamente no que respeita à capacidade de argumentar para defender as nossas perspectivas, ideias, pontos de vista, com base na capacidade de uma fundamentação crítica das mesmas.

      Sendo a retórica a arte de bem falar e de bem argumentar torna-se evidente a compreensão da importância da retórica na sua ligação à investigação filosófica.

      É o modo como a retórica é utilizada e o uso que dela se faz que determinam o enquadramento desta, não só em relação com a filosofia e a prática filosófica do diálogo, mas também com o seu bom ou mau uso, tendo como plano de fundo o contraste ou divergência entre os sofistas e os filósofos, sendo de particular relevância o estudo de Platão, acerca do modo como o diálogo e o discurso que o estrutura se constrói e apresenta enquanto expressão da procura da verdade, ou pelo contrário, como forma de manipulação que conduz ao engano, ao cepticismo e ao relativismo tão característico da posição sofística.

      No século V.a.C em Atenas, no auge da democracia ateniense, os sofistas são os grandes especialistas na arte da retórica e o papel que desempenham na formação de oradores especialistas na arte de falar eloquentemente, de forma persuasiva e convincente, ensinando as técnicas discursivas que permitem a quem tem ambições políticas de alcançar o poder através do voto, utilizar o extraordinário poder da palavra para obter a adesão dos espíritos dos seus concidadãos, torna os sofistas na democracia emergente actores fundamentais na cena política..

      No tribunal, na assembleia ou no espaço público onde o voto de cada cidadão livre é essencial na disputa política pela conquista dos espíritos, a arte de argumentar torna-se fundamental e decisiva na conquista do poder: aqueles que têm ambições políticas procuram então os sofistas para serem os seus professores de retórica, que mediante uma remuneração pelas lições que ministravam ensinavam os orador a obter por intermédio da palavra o poder ascendente que lhes permitia a adesão dos espíritos às suas propostas.

      A este uso da retórica que se entrelaça com a manipulação das crenças, valores e autenticidade, tornando a consciência dos cidadãos vulneráveis à prática de um discurso demagógico, opõe-se a filosofia pela sua preocupação com um outro uso da retórica, totalmente oposto ao dos sofistas pela sua única e exclusiva preocupação com a Verdade e como a retórica pode por intermédio do raciocínio, da linguagem e do discurso, levar à sua investigação e permitir ao espírito elevar-se dos abismos da ignorância às alturas da sabedoria.

      Este uso filosófico da retórica preocupava-se com o aperfeiçoamento ético e ontológico dos seres humanos e visava a busca da virtude como ideal ético-moral a alcançar pela pesquisa da Verdade e da autenticidade do Ser.

      Para que tal procedimento se tornasse possível a dialéctica desempenha um papel fundamental e é definida por Platão no Livro VII, 533 -cd da República, do seguinte modo: o método “ que procede por meio da destruição das hipóteses, a caminho do autêntico princípio, a fim de tornar seguros os seus resultados, e que realmente arrasta aos poucos os olhos da alma da espécie de lodo bárbaro em que está atolada e eleva-os às alturas.”


Elizabeth Carvalho de Moraes
Primeiro Período de Filosofia