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O Argumento Ontológico de Anselmo de Aosta

Posted By Franci On 6 de dezembro de 2009 @ 22:56 In Artigo | No Comments

      Anselmo de Cantuária nasce em 1033 perto de Aosta. Com a mãe aprende a conhecer e amar a Deus. Seus estudos foram confiados aos beneditinos de Aosta, onde realizou rápido progresso. Pensa em tornar-se monge, sem a permissão do pai e da mãe. Torna-se livre aos 24 anos após o falecimento de sua mãe e do ingresso de seu pai em um mosteiro. Saindo de Aosta partindo para Borgonha e França. Anselmo procura pelos melhores mestres na intensão de se tornar um deles. Torna-se prior de Lanfranco quando este é nomeado abade em Bec em 1063, Anselmo é nomeado abade em 1086. Em 1093 foi nomeado bispo de Cantuária, na Inglaterra, onde fora visitar um amigo gravemente enfermo.

      As suas obras mais importantes são o Monologium (Monólogo) e o Proslogium (Diálogo) e o Cur Deus Homo (Porque Deus se fez Homem). Nelas ele estuda, entre outras coisas, dois problemas de fundamental importância para a filosofia cristã: os das relações entre a fé e a razão e o da existência de Deus.
      Anselmo passa seus últimos quinze anos de vida em Cantuária numa incessante luta para salvaguardar a liberdade da igreja. Guilherme, rei caríssimo e filho dileto da Santa Igreja Romana, empreendera séria reforma da Igreja, mas com seu filhoo movimento de reforma cessaria. A ação só visava separar a Igreja da Inglaterra da Igreja de Roma. Anselmo empenha-se em ser o traço de união entre as duas, mantendo atitude de firmeza diante do rei.
      Numa de suas primeiras obras, o Monologium, Anselmo apresenta sua visão de Deus, afirmando a existência da essência suprema em todas as coisas e que tudo depende dela. Estabelece na essência a máxima sabedoria e a bondade suprema, a onipotência, a onipresença. Que tudo criou a partir do nada. Anselmo desenvolve um raciocínio evolutivo sobre o que considerava ser a verdade. O aforismo quer destacar duas coisas. Primeiramente a necessidade da fé para o conhecimento da verdade religiosa e moral; e em segundo lugar a necessidade de usar a razão. Para       Anselmo, o pensamento tem algo de divino, e Deus tem uma razão. Não procura a razão de uma fé entendida como fé subjetiva daquele que crê, mas procura as razões da fé na qual se crê. Sua palavra é sua essência, e Ele é pura essência , infinito, sem começo nem fim, pois nada existiu antes da essência divina e nada existirá depois. Para ela o presente, o passado e o futuro são juntos ao tempo, são uma coisa só. É imutável, uma substância, embora seja diferente da substância das outras criaturas. Existe de uma maneira simples e não pode ser comparado com a consciência das criaturas, pois é perfeito e maravilhoso e tem todas as qualidades já citadas. O verbo e o espírito supremo são uma coisa só, pois este usa o verbo consubstancial para expressar-se. Mas a maneira intrínseca que o espírito supremo se expressa e conhece as coisas é incogniscível para nós. O verbo procede de Deus por nascimento, e o pai passa a sua essência para o filho. O espírito ama a si mesmo, e transmite esse amor. Para Anselmo, a alma humana é imortal, e as criaturas seriam felizes e infelizes eternamente. Mas nenhuma alma é privada do bem do Ser supremo, e deve buscá-lo, através da fé. E Deus é uno. Para se contemplá-lo devemos nos afastar dos problemas e preocupações cotidianos e buscá-lo. Ele é onipotente embora não possa coisas como morrer ou mentir. É piedoso, em parte por ser impassível, o que não o impede de exercer sua justiça, pois ele pensa e é vivo. Anselmo fala muito da crença divina do Pai, do filho e do espírito humano. Grandes coisas esperam por aquele que aceitar Deus e buscá-lo. Santo Anselmo influenciou muito o pensamento teológico posterior.
      No Proslogium, ao contrário, Anselmo quer encontrar um argumento irrepreensível, único e inconfundível para provar a existência de Deus, que não deva se apoiar em experiências externas, ou seja, que não deva chegar até Deus a posteriori, através da existência das coisas criadas. Anselmo procura um argumento sólido, que não precise se apoiar em qualquer realidade externa que seja ou em multiplicidade de argumentos, mas evidente na pura interioridade do homem. Anselmo se reporta a uma linha principalmente agostiniana na procura de Deus, a procura no interior do homem, não deseja encontrar apenas a razão dos conteúdos da fé, mas quer que seja a própria fé, com a qual se crê e com a qual se deseja iluminar o ato de crer. Anselmo procura no Proslogium uma compreensão da razão da existência de Deus, a fé com a qual se crê. O Proslogium é o Deus revelado “aquilo que não se pode pensar nada de maior”.
      Kant quem denomina de Ontológico o argumento de Anselmo, uma vez que deduz a existência de Deus de seu puro existir. A ideia de Deus implica a idéia da própria existência, sendo Deus aquele ser perfeitíssimo que inclui em si todas as qualidades possíveis, também a da existência, porque ele de modo exclusivo e único, é perfeito.
      Contestado pelo Liber pro insipiente – Livro para iniciantes – escrito pelo monge Gaunilon, Anselmo replica. A objeção de Gaunilon rejeita-se facilmente porque não de discute uma idéia qualquer, mas a de um ser perfeitíssimo, daquilo que não se pode pensar nada de maior, portanto, devemos incluir a sua existência concreta na própria idéia. A objeção de Gaunilon se retoma ao longo da história do argumento ontológico. De alguma forma Anselmo prevê esta objeção e a argumentação ulterior. Anselmo fala da necessidade de pensar em Deus como existente, da possibilidade de pensar naquilo que não é possível ser pensado como não existente, ou seja, DEUS. Afirma-se explicitamente que Deus deve existir necessariamente, deve ser existente. Não podemos pensar em Deus, aquilo a respeito não se pode pensar nada de maior, a não ser pensando nele como existente. O insensato tem a idéia de Deus no próprio intelecto, mas como uma simples palavra escrita ou pronunciada, não compreendida em seu significado efetivo, porque, de outra forma deveria necessariamente pensá-lo como existente.
      Diante do argumento ontológico Scot, Descartes, Leibniz e Hegel o defederam, já Tomaz de Aquino, Kant, Maritains e muitos outros o rejeitaram. Pode-se notar na leitura dos textos que os pensamentos de Anselmo e de Tomás de Aquino são absolutamente diferentes, Anselmo dirige-se a crentes e Tomás de Aquino o mundo abriu-se mais à filosofia pagã. Leibniz conhecia o argumento de Anselmo, mas diz que continua insatisfeito, Descartes crê na possibilidade da idéia divina proclamada por Anselmo contra Gaunilon, Pode-se dizer que o pensamento de Anselmo é como elo de uma cadeia que parte dos últimos herdeiros neoplatônicos , passando por Santo Agostinho e escoto Erígena, chega aos dialéticos e misticos, mais tarde aos cartesianos.

“Portanto, Senhor, tu és não somente aquilo de que não se pode pensar nada de maior, mas tu és muito maior de quanto possa ser pensado”

      Tais afirmações se juntas não tornam Deus um Deus dos filósofos, um Deus lógico e sim um Deus vivo da fé e da revelação. Anselmo pensa também na transcendência de Deus em relação a qualquer pensamento. Deus um ser supremo e maior, não só em pensamento mas em relação ao ser, à existência real de um Deus como ser perfeitíssimo. Deus que transcende a própria identidade de ser e pensamento, uma ligação perfeita. “Aquilo que não se pode pensar nada de maior”.


Francineli Teixeira Reyes
Segundo Período de Filosofia

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
TOMATIS, Francesco. O argumento ontológico. : a existência de Deus de Anselmo a Shelling. Tradução: Sérgio José Schiarato – São Paulo : Paulus, 2003
MONDIN, Batista. Curso de filosofia, vol. I. Capítulo XVII, págs. 155 à 158


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